Nos passos de alguém...

Nos passos de alguém
Originally uploaded by tiguh

No fundo andamos sempre nos passos de alguém. Tanta e tanta gente que já passou pelo mundo, seria impossível não estarmos, em qualquer momento, nos passos de alguém (um encenador dir-me-ia que tudo em teatro já foi reinventado; é impossível inventar algo de novo para se encenar ou representar; isso não impede no entanto de reutilizar velhas fórmulas, e de as reinventar). Mais ou menos premeditado, devemos sempre sentir que estamos nos passos percorridos por alguém – quando a estrada se dividir em duas, haverá sempre uma estrada com mais erva daninha do que outra, mas não nos enganemos: perde-se no tempo a memória dos muitos que a tomaram.

Seguir os passos de alguém não pode, no entanto, nunca ser um impeditivo. Nunca podemos ter nada a perder em seguir o rumo que outros terão seguido. Exemplo prático: não é o facto de milhões e milhões de pessoas rumarem à Madeira que tira o que quer que seja do sentimento avassalador que eu sinto quando lá estou. É no fundo a nossa experiência que marca os passos que nós damos. São os acontecimentos, e as pessoas, e os locais, que marcam os nossos passos. Haverá sempre uma base que esperamos encontrar, mas tudo o resto é muito pessoal, e sempre muito especial.

No fundo há um ponto positivo – nunca nos podemos sentir sozinhos. Haverá sempre alguém que partilha connosco um momento, ou um sentimento, ou um gosto, ou um caminho, ou uma VIAGEM. Haverá sempre alguém que se arrepia ao som da mesma música que nós, alguém que deitará uma lágrima na mesma página do mesmo livro. Haverá sempre alguém boquiaberto perante a mesma paisagem, alguém que compreende o mesmo poema da mesma forma, e sempre, mas sempre, alguém que partilha o sorriso nos mesmos momentos.

É quase tão bom andar nos passos de alguém como trilhar novos passos. Modernidades aparte, políticas, economias, e todas essas palavras feias aparte, podemo-nos sentir muito sortudos. Temos a nata daqueles que trilharam o seu próprio caminho. Temos o nome Magalhães estendido de latitude a longitude, nos sítios mais inimagináveis. E quando ouvimos as histórias de viagens e aventuras, dá-nos muita vontade de as refazer, de as seguir, de as trilhar, de conhecer aquelas mesmas pessoas que há tantos anos conheceram os nossos antepassados.

No fundo, o importante é olhar em frente, qualquer que seja o caminho que trilhamos. O importante é escolhermos os nossos caminhos, indiferentes ao facto de estarmos a ser inovadores ou não. O importante – diria Paulo Coelho – é andar para a frente olhando para cima. Podemos tropeçar por não olhar para o chão, mas é preferível tropeçar a perder aquilo que podemos ver ao olhar para cima. E o caminho que trilharmos, paralelo aquele que já está marcado, fica também marcado, fazendo com que, queiramos ou não, alguém siga, um dia, nos nossos passos.

(...)

Daqui a mais anos, com mais conhecimento de causa, escrevo uma cartinha num outro 6 de Outubro (...). Aí já saberemos mais sobre os passos que teremos trilhado. Até ver, trilhamos apenas os caminhos de quem inicia uma vida cada vez mais adulta, e precisa de ver outras perspectivas, ter outras experiências, decidir se quer guardar mais ou menos memórias da infância ou da adolescência. Muitas vezes temos estradas que se dividem em duas: cada vez as decisões são mais importantes, mais fulcrais, e mais influenciarão o nosso futuro.

Diria Saramago - é preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

Portanto, que os teus 25 anos (e todos os outros) sejam cheios de novas viagens, e de novos caminhos. De novos trilhos, de aventuras, cheios de decisões que tu possas tomar e pensar no fim “fui eu que escolhi a estrada que sigo hoje, e fui eu que moldei os passos que vou dando”. Sempre com os teus caminhos e as tuas viagens. Sempre com as tuas músicas e os teus livros. Sempre com as tuas paisagens e os teus poemas. Sempre, mas sempre, com um sorriso na cara, com o TEU sorriso na cara.

Parabéns!